Muita gente desejou (eu, inclusive) neste Ano Novo um 2021 com saúde, paz, realizações e… as tão aguardadas vacinas contra a covid-19. Muitos estão ansiosos pela sua chegada, para poder voltar à rotina do dia-a-dia, trabalhar, sair com amigos, abraçar as pessoas e, é claro, viajar!
Diante do possível início da vacinação (até que enfim!) no Brasil, resolvi me aprofundar no assunto, para tentar entender quais as diferenças entre as vacinas existentes, as vantagens e desvantagens entre as disponíveis aos brasileiros, previsão para sermos vacinados, etc. Gostaria de compartilhar algumas “descobertas” que até então não tinha conhecimento:
Principais Vacinas Contra a Covid-19
As vacinas contra a covid-19 mais adiantadas mundialmente são as seguintes:
- BNT162, da Pfizer e BioNTech (EUA e Alemanha)
- mRNA-1273, da Moderna (EUA)
- AZD1222, da Universidade de Oxford e AstraZeneca (Inglaterra e Suécia)
- CoronaVac, da Sinovac (China)
- Sputnik V, do Instituto de Pesquisa Gamaleya em Epidemiologia e Microbiologia (Rússia)
- JNJ-78436735, da Johnson & Johnson (EUA)
- NVX-CoV2373, da Novavax (EUA)
- Ad5-nCoV, da CanSino (China)
- Covaxin, da Bharat Biontech (Índia)
O Brasil firmou dois acordos bilaterais: um do Instituto Butantan com a Coronavac/Sinovac e outro da Fiocruz com a AstraZeneca/Oxford.
A vacina da Oxford e AstraZeneca é a priorizada pelo governo brasileiro, que confirmou a importação de 2 milhões de doses da vacina produzida na Índia. Segundo o acordo firmado com a Fiocruz, 100 milhões de doses serão produzidas a partir do princípio ativo importado da AstraZeneca na China e, a partir do segundo semestre, a Fiocruz terá controle total da tecnologia e prevê produzir mais 110 milhões de doses.
O instituto Butantan já importou mais de 10 milhões de doses da vacina CoronaVac e em dezembro iniciou a produção da vacina em solo brasileiro. Prevê operar sete dias por semana, em turnos sucessivos, a fim de alcançar a capacidade máxima de um milhão de doses por dia.
Até o final de janeiro, 40 milhões de doses da vacina deverão ser produzidos no local e a expectativa do governo de São Paulo é de iniciar a imunização a partir de 25 de janeiro, após o registro e a autorização pela Anvisa.
Eficácia das Vacinas Contra a Covid-19
Semana passada ouvimos que a CoronaVac tem eficácia de 78% contra o novo coronavírus. Isso é bom? De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para que uma vacina seja considerada segura em relação à imunização é necessário que apresente uma eficácia acima de 50%, e vacinas com percentual de efetividade entre 60% e 70% já são consideradas boas.
Apenas para efeito comparativo, sabia que a vacina da gripe tem apenas 40% a 60% de eficácia? Fiquei preocupado com esse índice que pode ser inferior a 50%, nesse caso pouco adiantaria tomar a vacina, não é mesmo?
O primeiro candidato a apresentar resultados sobre a eficácia da vacina foi a Universidade de Oxford (70,4%), seguido pelos desenvolvedores russos da Sputnik V (91,4%). Posteriormente, a Pfizer/BioNTech informou ter índice de 95%, a Moderna, de 94,5% e, recentemente, a Coronavac informou que possui eficácia de 78% em casos leves e 100% em casos graves e moderados.
Para chegar ao cálculo desse índice de eficácia, é necessário reunir uma quantidade mínima de casos de covid-19 entre os voluntários, que receberam aleatoriamente a vacina com o composto ativo ou apenas o placebo (formulação sem efeito farmacológico). Tanto a Oxford/AstraZeneca quanto a Moderna estabeleceram um mínimo de 150 casos e que aconteceram somente duas semanas após a aplicação da segunda dose da vacina.
Assim, quando essa quantidade for atingida, verifica-se entre os voluntários com covid-19 quantos receberam a vacina com princípio ativo e quantos com placebo. Por exemplo, se foram 160 pessoas infectadas sendo que 16 receberam a vacina “verdadeira” (apenas 10%), considera-se que a eficácia foi de 90%.
Desta forma, pode-se deduzir que, do total de voluntários no Brasil que participaram dos testes da CoronaVac, 78% dos que apresentaram sintomas leves haviam tomado a vacina com o princípio ativo, e 22%, com placebo. O que me deixou otimista é que, dos casos considerados graves e moderados, 100% haviam recebido apenas o placebo, ou seja, a vacina foi importante para não agravar a doença e evitar uma internação.
Outra curiosidade: enquanto nos outros países os testes foram efetuados com uma amostra de voluntários que corresponde à sua população, no Brasil os mais de 12 mil voluntários foram exclusivamente de profissionais de saúde, não abrangendo crianças, idosos, pessoas com algum fator de risco, etc. Daí, não temos como comparar se o índice da CoronaVac é melhor ou pior que as demais vacinas, assim como se ela é eficaz com idosos ou aqueles com algum fator de risco.
Tipos de Vacinas Contra a Covid-19
Entre todos esses fabricantes de vacinas contra a covid-19 existem três tipos de tecnologia, e vamos explicar qual a estratégia de cada uma:
- Vírus inativado: cientistas matam o vírus utilizando algum método (calor ou substância química) para que não cause nenhuma infecção ou que se repliquem no nosso organismo. Mas, mesmo quando aplicado numa vacina, é reconhecido pelo sistema imune, que irá criar uma resposta protetora e nosso organismo saberá como reagir contra ele. CoronaVac e Covaxin utilizam essa técnica.
- RNA mensageiro: técnica nunca adotada, que consiste em utilizar apenas um pedaço do material genético. O mRNA sintético irá dar as instruções ao nosso organismo para produzir as proteínas encontradas na superfície do vírus e assim estaríamos mais preparados para enfrentá-lo. A Pfizer/BioNTech e a Moderna adotaram essa técnica.
- Vetor viral não replicante: utiliza um vírus vivo, como um adenovírus, que causa no máximo um resfriado. Esse adenovírus tem o DNA modificado, transformando-o num vetor do tipo não replicante e trocando a sequência do antigo adenovírus pela sequência genética da proteína S que o SARS-Cov-2 usa para entrar nas nossas células. Assim que nosso organismo identificar essa sequência genética, o sistema imunológico reconhecerá e produzirá anticorpos. Utilizada pela Oxford/AstraZeneca, Sputnik V, Johnson & Johnson e CanSino.
Vantagens e Desvantagens das Vacinas Contra a Covid-19
A grande vantagem da estratégia do vírus inativado é sua confiabilidade: a ciência trabalha com vacinas de vírus inativados há 70 ou 80 anos, em vacinas conta a gripe, meningite, raiva, hepatite, tétano, etc. A maior desvantagem é a demora, porque a fabricação exige um rigor elevadíssimo, uma planta industrial mais equipada e a formulação não rende muito em doses por litro. O acordo entre o Ministério da Saúde e a Sinovac estabeleceu o preço por dose da CoronaVac em US$10,30.
O RNA mensageiro será a primeira vacina genética da história. As exigências de laboratório e equipamentos são menores do que as concorrentes e são muito mais fáceis e rápidas de serem produzidas. Sua tecnologia é estratégica para cenários de pandemias e epidemias devido à agilidade em modificação do antígeno codificado caso necessário, bem como a potencialidade de realização de doses de reforço. Como desvantagens, a necessidade de manter a vacina a temperaturas baixas (até -70ºC no caso da Pfizer/BioNTech), encarecendo o preço: US$19,50, ou de US$25 a US$37 para a vacina da Moderna.
Mas a aplicação dessa vacina já trouxe algumas contra-indicações: não deve ser aplicada em pessoas com alergia grave, pois pode causar uma reação anafilática, até impedir a respiração e requer tratamento médico imediato.
A tecnologia do vetor viral não replicante tem como grandes vantagens o menor custo aliado à facilidade de armazenamento. Mas ainda é incerta quanto aos resultados, seria preciso aguardar mais tempo para ver a segurança do produto e seus efeitos a longo prazo. A vacina da Oxford/AstraZeneca custará US$3,16 no acordo firmado com a Fiocruz.
Importante destacar que toda essa manipulação de DNAs e RNAs não afeta o DNA humano, que fica muito bem protegido dentro do núcleo da célula, sem risco de entrar em contato com o materia genético do vírus. E será importante para combater futuros vírus que venham a surgir no futuro, bastando substituir a informação relativa ao componente-chave que causa a infecção.
Qual a Previsão para Você ser Vacinado?
De acordo com plano nacional de vacinação, a população foi dividida em 5 grupos:
- Fase 1 (14,8 milhões de pessoas): trabalhadores da saúde, pessoas com mais de 75 anos ou com mais de 60 em instituições de longa permanência, indígenas em terras demarcadas e povos tradicionais ribeirinhos. Previsão de início em meados de fevereiro, segundo o governo (sujeito a mudanças);
- Fase 2 (22,1 milhões de pessoas): pessoas de 60 a 74 anos que não vivem em instituições de longa permanência como asilos e instituições psiquiátricas. Segundo e terceiro mês após o início da vacinação;
- Fase 3 (12,7 milhões de pessoas): pessoas com comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer ou obesidade grave (IMC>40). Quarto mês após o início da vacinação;
- Grupo prioritário (10 milhões de pessoas): professores, forças de segurança (polícia federal, militar e civil e Forças Armadas) e salvamento (bombeiros), funcionários do sistema prisional, presos, quilombolas, moradores de rua, portadores de deficiência, dentre outros. Vacinação durante os 12 meses seguintes após fase 3;
- Não prioritário (cerca de 120 milhões de pessoas): ?
Já o plano do governo de São Paulo prevê por enquanto somente a 1ª fase (para profissionais da saúde, indígenas e quilombolas e pessoas acima de 60 anos):
- profissionais da saúde, indígenas e quilombolas. Primeira dose em 25 de janeiro e segunda em 15 de fevereiro;
- pessoas de 75 anos ou mais. Em 8 de fevereiro e 1º de março;
- pessoas de 70 a 74 anos. Em 15 de fevereiro e 8 de março;
- pessoas de 65 a 69 anos. Em 22 de fevereiro e 15 de março;
- pessoas de 60 a 64 anos. Em 1º e 22 de março.
Contudo, na quinta-feira (7) o Ministério da Saúde firmou contrato para aquisição e distribuição do imunizante produzido pelo Instituto Butantan, sendo que todas as 10,8 milhões de doses destinadas ao governo paulista serão repassados ao governo federal.
A cláusula 1.3 do referido contrato menciona que “A contratante terá o direito de exclusividade na aquisição de doses da VACINA ADSORVIDA – COVID-19 (INATIVADA), CONTRA O SARS COV-2, SUSPENSÃO INJETÁVEL, produzidas ou importadas pela Contratada em todo o território nacional, enquanto durar o presente contrato”.
O contrato prevê o fornecimento de 46 milhões de doses para o Ministério da Saúde até 30 de abril, e a possibilidade de adquirir outras 54 milhões de doses, totalizando 100 milhões.
Algumas Palavras
Muito bom acompanhar a evolução tecnológica das vacinas contra a covid-19: avanços biotecnológicos em diversas áreas de pesquisa têm contribuído para o desenvolvimento de formulações cada vez mais seguras e eficazes. Essas tecnologias trazem perspectivas de que num futuro próximo vacinas para o controle de doenças infecciosas e degenerativas ainda não passíveis de prevenção possam estar disponíveis.
Independente se a vacina disponibilizada será a do vírus inativado (CoronaVac) ou a do vetor viral não replicante (Oxford/AstraZeneca), importante é que ela seja disponibilizada a todos, com a máxima urgência.
Com a aquisição de todo o estoque atual do Instituto Butantan pelo governo federal e a quantidade de doses prevista, será que o Plano Estadual de Imunização de São Paulo, previsto para iniciar ainda este mês, poderá ser cumprido?
A Anvisa ainda não aprovou a vacina, alegando que o Instituto Butantan não entregou toda a documentação exigida, enquanto o órgão afirmou que forneceu todos os documentos necessários. Será que essa aprovação não está relacionada ao plano do governo federal em iniciar a imunização somente a partir de fevereiro?
O importante é que qualquer embate político fique em segundo plano e as vacinas contra a covid-19 sejam logo distribuídas para a população, não é mesmo?
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