Mais uma vez, nosso leitor Carlos nos brinda com um ótimo post, agora falando daquele que foi provavelmente o primeiro blog de viagens do Brasil – o Aquela Passagem.
Blog Aquela Passagem
Para homenagear um blog fundamental na história dos milheiros brasileiros, resolvi escrever um #TBT (Throwback Thursday, no nosso bom idioma, quintas de nostalgia) sobre o lendário blog Aquela Passagem.
Criado por Rodrigo Purisch, um médico mineiro, o Aquela Passagem surgiu em agosto de 2006, com o domínio aquelapassagem.blogspot.com. A inspiração, segundo o próprio autor, veio dos blogs Viagem na Viagem, do Ricardo Freire, e do Fatos e Fotos, do Arnaldo Interata.
Imagino que a maioria dos leitores conheça, mesmo que superficialmente, o “Riq Freire”. Mas o blog do Arnaldo era um fantástico compêndio de lindas fotos de viagens com um texto primoroso sobre a cultura, história e dados dos locais visitados. Infelizmente, parece ter-se perdido o arquivo com o vasto material publicado pelo Arnaldo ao longo de anos, ficando apenas a produção mais recente em fatosefotosdeviagens.com.
O pauta do Aquela Passagem
De qualquer forma, o Aquela Passagem teve a primazia de publicar o que, hoje, é o padrão da maioria dos blogs de viagens e milhas: notícias da aviação, promoções de passagens e resgates, avaliações de programas de milhagens e cartões de crédito.
O que acho bastante impressionante, e que demonstra a importância do blog, é que frequentadores e colaboradores de lá acabaram, posteriormente, criando seus próprios blogs, como o Fábio Vilela, do Passageiro de Primeira; o Gabriel Dias, do Falando de Viagem; e o Guilherme, do Meu Milhão de Milhas.
O Guilherme, é bom destacar, foi responsável por colaborar com uma série de análises, então pioneiras, sobre os cartões de crédito disponíveis no mercado, à época. Enquanto as pessoas ainda engatinhavam no modelo de maximização de acúmulo e produção de milhas, os textos contendo descrições, benefícios e anuidades dos cartões nacionais ajudaram os milheiros em formação (no qual me incluo) a descobrir novos produtos e enxergar novas possibilidades, quando não havia nenhum material consolidado sobre o assunto.
Acho até curioso que, na análise publicada em junho de 2009 sobre o TPC, cartão até então desconhecido para a maioria, o primeiro comentário veio, justamente, do Fábio Vilela (em www.aquelapassagem.com.br/american-express-the-platinum-card/comment-page-01/).
Infelizmente, embora o arquivo esteja ainda todo disponível, a leitura fica um pouco difícil pelos erros de visualização de palavras com acentos ou caracteres especiais. Quem quiser conferir outras avaliações dos cartões e verificar as mudanças ocorridas desde então, pode clicar aqui.
Minha descoberta do blog Aquela Passagem
Descobri o blog em 2007 e foi fundamental para a minha graduação no universo das milhas e companhias aéreas, quando passei a maximizar o acúmulo melhorando os cartões de crédito e comprando milhas de programas estrangeiros. Isso permitiu que eu passasse a resgatar meus pontos em passagens de executiva e primeira classe (minha pós-graduação credito ao Lucky do One Mile at a Time).
Acho um bom critério de classificação entre milheiros-raiz e milheiros-nutella quem foi ou não leitor do AP (obviamente, estou brincando). Mas o lema do blog continua atual: “milha boa é milha gasta”.
De memória, me lembro do marcante primeiro “bug” de passagens publicado nos blogs nacionais, quando a Qatar vendeu ida e volta de São Paulo a Barcelona, com conexão em Doha, na econômica, por U$ 350 (R$630, no fantástico câmbio da época). Hoje, pode não parecer grande coisa, mas os mais de 900 comentários atestam a repercussão da notícia.
E, ainda, do declarado amor do Rodrigo pela Singapore Airlines, o que acabou lhe rendendo um convite para o voo inaugural da empresa em São Paulo, na classe executiva, quando não havia Instagram ou Twitter para identificar, pela quantidade de seguidores, os “influenciadores digitais” da época.
Visite o Aquela Passagem
É bastante interessante dar uma vasculhada no arquivo do blog para refrescar a memória e perceber que muitas “novidades” de hoje já aconteciam há mais de 10 anos. Por exemplo, temos um artigo de 2008 discorrendo sobre a venda de milhas e outro de 2009 com o Itaú dando bônus de 100% para o TAP Miles&Go. Destaque para os áureos tempos em que o pagamento de contas com cartão de crédito permita a geração de uma gigantesca quantidade de milhas a baixíssimos custos.
Em 2011, a Latam já era criticada por sua tabela dinâmica e por ser uma metamorfose ambulante (é impossível não aplaudir o Rodrigo, pela honestidade com que tratava as notícias). Em 2013, o Smiles ter mudado sua tabela sem aviso prévio gerou surpresa, mal sabendo que isto viria a ser o modelo de operação do programa e seus concorrentes.
Apesar do Paulo Alcântara ser nosso guru dos GDSs, as pesquisas avançadas no Ita Matrix também eram abordadas. E uma pesquisa de avaliação dos programas de fidelidade foi feita com os leitores, com resultados interessantes.
Não querendo gerar polêmicas, mas não posso deixar de comentar outra postagem bastante marcante do AP, quando, em 2011, o Rodrigo acusou outro blog de plágio de seu conteúdo. Após tantos anos, o que acho mais relevante é que, à época, o blog acusado possuía tráfego muito menor que o do AP e, hoje, está entre os líderes nacionais, ficando então a indagação de onde o Aquela Passagem poderia estar se tivesse continuado sua trajetória.
O fim do blog Aquela Passagem
E terminando, então, vem a questão do porquê o AP acabou. O Rodrigo explica em linhas gerais seus motivos, mas eu resumiria em dois: o sucesso do blog e a ética do autor. A qualidade do conteúdo gerou demanda cada vez maior por mais publicações e moderações, tomando cada vez mais tempo que seria utilizado em benefício próprio. E a ética do autor não permitia a profissionalização do blog, quando seu conteúdo acabaria tendo de ser dividido com outros colaboradores e a monetização da atividade poderia gerar conflitos editoriais.
Não acho que seria, necessariamente, o caso. Temos este (o Passagens.top) e outros blogs como exemplo de que é possível manter uma linha editorial independente e tentar monetizar o blog (o que sou completamente a favor, pois é preciso alguma retribuição para as várias horas gastas em produção de conteúdo gratuito). Mas também temos outros claros exemplos de como a monetização pode ditar as manchetes, censurar notícias e comentários e direcionar o conteúdo.
Enfim, agradeço ao Rodrigo Purisch pelo pioneirismo no trato do assunto, sempre com muita qualidade e respeito ao leitor.
Mais uma vez agradecemos o Carlos por mais uma excelente contribuição para o mundo dos pontos e milhas.
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