A British Airways está novamente nas manchetes dos jornais do Reino Unido. E dessa vez o foco não são os costumeiros relatos dos passageiros que viajaram de férias com a empresa e odiaram o serviço.
A empresa está sendo acusada de agir de má fé e usar a pandemia do covid-19 para forçar os seus comissários a aceitarem reduções salariais de até 50% para manterem os seus empregos.
Os Diferentes Contratos dos Comissários da British Airways
Para chegarmos ao momento atual, é preciso fazermos uma recapitulação dos fatos. Por muitos anos a British Airways teve apenas dois tipos de contratos com os comissários baseados no Aeroporto de Heathrow, o seu principal hub. São eles:
- Eurofleet – Contrato de trabalho para os comissários que fazem voos apenas dentro da Europa.
- Worldwide – Contrato de trabalho exclusivo para os funcionários que trabalham nos voos intercontinentais.
Basicamente, os benefícios e os rendimentos de cada um dos contratos são diferentes. Além disso, um funcionário contratado segundo os termos do Eurofleet, não pode fazer voos intercontinentais e vice-versa.
Há alguns anos atrás, num movimento polêmico e recheado de greves e acusações, a empresa introduziu um terceiro tipo de contrato – o Mixed Fleet.
Neste contrato, os comissários voam tanto na Europa quanto nas rotas intercontinentais e desde o seu lançamento, ninguém mais é contratado via Eurofleet ou Worldwide. Além da menor remuneração, os benefícios do contrato Mixed Fleet também são inferiores aos outros dois contratos.
O plano inicial da empresa era forçar a migração progressiva dos comissários para o novo contrato. Ademais da pausa nos recrutamentos, já mencionado acima, a empresa começou também a transferir rotas do Eurofleet e Worldwide para o Mixed Fleet.
Porém, nem tudo saiu como planejado. A empresa esbarrou nos sindicatos, nas leis trabalhistas e na qualidade dos serviços. De um modo geral, os passageiros são bem críticos quanto aos serviços oferecidos pelos funcionários do Mixed Fleet. As reclamações mais comuns são falta de traquejo no trato com os passageiros e inexperiência a bordo.
Covid-19 – A Desculpa que Faltava para a British Airways
Com a pandemia do covid-19, o cancelamento em massa de voos e a retração do mercado, a British Airways, como tantas outras empresas, está lutando pela sua sobrevivência. Até aqui, tudo absolutamente compreensível.
No entanto, a situação toma outro rumo quando o assunto são os comissários. A empresa informou a todos os tripulantes que irá fundir os três contratos em um único. O novo contrato, de acordo com o que se sabe até agora, é marginalmente melhor que o contrato atual do Mixed Fleet, mas infinitamente pior que ambos Eurofleet e Worldwide.
Segundo o blog britânico Head for Points o novo salário anual, já incluindo vários benefícios, será de £24.000,00 (ou algo em torno de R$ 161 mil). Levando-se em conta o custo de vida no Reino Unido, esse valor é muito baixo.
De acordo com o que se sabe até agora, os tripulantes que tiverem a oportunidade de continuar na empresa terão que aceitar o novo contrato de trabalho. E neste ponto é onde sindicatos e governo entram em cena, pois a empresa está ignorando alguns aspectos das leis trabalhistas britânicas. Dentre eles, a necessidade de se fazer uma consulta pública com as partes envolvidas.
Os sindicatos vão além, argumentam que a empresa está se valendo do difícil momento pelo qual estamos passando para levar adiante a sua agenda de redução de custos. Ainda segundo os sindicatos, esse novo contrato representa a pior remuneração da categoria no Reino Unido, ficando abaixo de empresas como RyanAir e EeasyJet.
Os Passageiros – Do Lado dos Comissários
Dessa vez, além dos tablóides eternamente críticos à British Airways, blogs e passageiros frequentes têm se manifestado a favor dos funcionários. Dentre as críticas está o fato de que a British Airways é uma companhia extremamente bem capitalizada. Inclusive, a própria empresa veio a público dizer que não precisava de socorro financeiro do governo por ter bastante dinheiro em caixa.
Ademais, a empresa está se valendo de um benefício emergencial onde até 80% do salário dos trabalhadores é pago pelo governo britânico (limitado a £2.5 mil mensais por funcionário). E o principal objetivo desse programa é justamente preservar empregos e evitar a falência das empresas.
Algumas Palavras
Sob o argumento de que é necessário lutar pela sua sobrevivência, a British Airways tirou da gaveta um projeto antigo que é a unificação dos diferentes contratos trabalhistas de suas tripulações de cabine.
Eu entendo que, por razões financeiras e operacionais, realmente faz sentido ter um único contrato. Entretanto, será que este é o melhor momento de se fazer isso?
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